O Espiritismo e a Arte
Cleide Alves
A arte é a mais fidedigna expressão do sentimento humano. Faz parte do processo da evolução orgânica e espiritual da humanidade porque está profundamente envolvida com a percepção, o pensamento e as ações corpóreas.
A sua beleza tem uma associação direta com os nossos sentidos. Um som, uma forma ou uma cor despertam emoções particulares em cada um de nós, em função do nosso modo de ver, sentir e reagir.
A linguagem da arte é comunicativa, tendo sido veiculada em todos os tempos e em diferentes espaços, na tentativa de difundir o belo.
O fazer artístico humano apresenta-nos a relação do homem com o mundo em todas as dimensões da vida, ou seja: o trabalho, o conhecimento, a cultura, a sociedade, a família e a fé. Os fazeres artísticos de nossos antepassados contêm registros históricos do modo como pensavam e agiam, dos seus costumes e da luta pela sobrevivência.
Neste sentido, pode-se dizer que a arte é a mais fidedigna expressão do sentimento humano porque os artistas têm expressado conforme o seu contexto aquilo que conhecem ou crêem como verdade.
A carência no campo das idéias pode gerar uma arte sem qualidade. Mas, se ela nos transportar para fora das nossas atividades comuns e acanhadas, pode tornar-se regenerativa.
Com os seus grandes gênios, a arte caminhou para além do contexto. Na vestidura dos gênios, os Espíritos desempenham suas missões, contribuindo para o progresso das artes em épocas determinadas pelo planejamento da Espiritualidade Superior. Trazem na sua genialidade a lembrança de mundos elevados a que pertencem ou então penetram em esferas espirituais mais sublimes, de onde haurem a inspiração para suas obras que perduram através dos séculos.
Os grandes artistas apresentaram-nos as regiões contempladas com os “olhos da alma”. E nós, os espectadores, ao identificarmos elementos do campo do sentimento nestas obras, associamos nossos próprios sentimentos a esses elementos. A música, por exemplo, é a arte mais sublime. Capaz de movimentar as nossas fibras mais íntimas, a música divina eleva-nos a padrões superiores ao da Terra.
“Mas, que impressões pode provocar nos outros aquele que não as tem?” (pergunta de Allan Kardec).
Desde 1857, o Espiritismo tem aberto para a arte um campo inteiramente novo, imenso e ainda inexplorado – conforme o pensamento do seu codificador. Para Kardec (1890): “Quando o artista houver de reproduzir com convicção o mundo espírita, haurirá nessa fonte as mais sublimes inspirações…”. Os seus contemporâneos também se dedicaram ao assunto.
Na obra “O Espiritismo na Arte” (1922), Léon Denis retratou o que ocorre na espiritualidade no que se refere à arte e como a beleza se manifesta através do artista encarnado na Terra. A obra foi elaborada a partir dos artigos publicados na Revista Espírita, fundada por Allan Kardec, (1858 a 1869) e contém as orientações mediúnicas do Espírito “O Esteta”.
Camille Flammarion escreveu o encantador romance “Urânia” (1889), onde um jovem viaja no espaço com a musa da astronomia que lhe revela belezas da vida espiritual.
Destaca-se também o fato de que, entre as obras queimadas no auto-de-fé de Barcelona no ano de 1861 – importante acontecimento na história do Espiritismo – estava incluído o “Fragmento de Sonata” ditado pelo Espírito de Mozart.
Neste período florescente das idéias, além de nos revelar a existência do plano espiritual, também se empenharam os Espíritos em trazer mostras de uma realidade invisível aos nossos olhos materiais e tão pouco acostumados com as belezas celestes.
Em sete anos de experimentações (1883 a 1890) no Grupo “Amitié”, dirigido por Henri Sausse, em Lion, quase duzentas flores foram materializadas, sempre à luminosidade e recobertas dum fino orvalho, como se elas tivessem acabado de ser colhidas. Eram flores mais belas que as de costume, transportadas de regiões do plano espiritual, como a mais pura manifestação de apreço da espiritualidade ao grupo.
Neste campo renovado das idéias, temos uma arte nova que surgiu com um novo termo: a arte espírita, que é a arte comprometida com a divulgação das idéias espíritas no seu sentido específico e na sua originalidade.
O artista da arte espírita é alguém que, com o seu talento, divulgará a verdade revelada pela concordância universal dos Espíritos e explícitos na Codificação Kardequiana, observando-lhe sempre os princípios primordiais.
Promoverá o belo e o bom, na música, na poesia, na literatura, no teatro e nas artes visuais.
Estará sempre atento para o compromisso da sua reforma moral no que se refere à aplicação dos princípios doutrinários na sua vida. Contribuirá com a sua aptidão associada a uma fé esclarecida, sob o clamor da voz do Espírito de Verdade que nos adverte: “Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.”
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Para saber mais: “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Introdução: Autoridade da Doutrina Espírita. “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec (1857). Questões: 220, 315, 316, 521, 565 e 566. “Obras Póstumas”, Allan Kardec (1890). “Sobre as artes em geral; a regeneração delas por meio do Espiritismo”.
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